Londrina (PR)

Londrina, PR – vaga em Creche para quem mais precisa

Entenda o sucesso no aumento de matrículas e na gestão da demanda por vagas em Creche

Parte do estudo: Acesso à creche: Crianças vulneráveis em primeiro lugar

Retrato do desafio

Quadro-Resumo

Veja, resumidamente, quais foram os desafios, as ações para solucioná-los e os resultados obtidos por Londrina na oferta de vagas em Creche. E entenda, ponto a ponto, nas seções “Desafios” e “Principais ações”.

Desafios
  • Em 2016, havia falta de clareza sobre a real demanda por vagas. As estimativas apontavam que cerca de 12 mil crianças estavam na fila de espera;
  • Não existia um cadastro centralizado e os critérios para alocação de vagas não eram claros;
  • Crianças das famílias mais vulneráveis tinham mais dificuldade de acesso à Creche;
  • Grande quantidade de ações judiciais contra a Prefeitura, movidas por famílias buscando acesso à Creche.
Ações

1. Criação da Central de Vagas;
2. Expansão do número de vagas por meio de parcerias;
3. Padronização do horário de atendimento na Educação Infantil;
4. Articulação com o Ministério Público e a Defensoria Pública para a diminuição da judicialização por vagas.

Resultados
  • Expansão do número de matrículas em Creche: de 6,5 mil, em 2016, para 9,5 mil, em 2020;
  • Queda na fila de espera: de cerca de 6 mil crianças aguardando por vaga, em 2017, para 2,3 mil, em 2021;
  • Apenas 4,5% das crianças que atualmente estão na fila de espera são consideradas vulneráveis;
  • Queda no número de ações judiciais: de 600 ações judiciais, em 2016, para 17, em 2017, e sete, em 2018.

Desafio da rede

Em 2016, Londrina não sabia o real tamanho da fila de espera por creches. Estimativas feitas pelo Ministério Público indicavam que, aproximadamente, 12 mil crianças esperavam por uma vaga. Assim, o primeiro desafio imposto à gestão era contabilizar o número real da fila. Como o cadastro era feito nas unidades, cada creche possuía sua própria fila de espera e não havia um mecanismo centralizado para monitorar a demanda total. Havia, ainda, um problema de monitoramento, pois muitas famílias faziam o cadastro das crianças em mais de uma unidade de ensino, de modo que havia múltiplos cadastros de uma mesma criança na fila, distorcendo o real tamanho da demanda.

Faltavam, portanto, critérios uniformes para a alocação das vagas entre as unidades, o que abria espaço para uma grave distorção do direito à Educação: atores políticos locais podiam influenciar na ordem de chamada para as matrículas. Além disso, a falta de vagas e a desorganização do cadastro culminavam em um amplo processo de judicialização por vagas: em 2016, foram contabilizadas cerca de 600 ações judiciais de famílias vulneráveis que buscavam uma vaga, mas não conseguiam.

O primeiro passo para superar esse e outros desafios da pasta foi a busca por um nome técnico para a gestão da Educação em 2017. O então prefeito Marcelo Belinati (PP) inovou ao selecionar a secretária por meio de um processo seletivo organizado por uma instituição independente. Maria Tereza Paschoal, ex-Secretária de Educação de Ourinhos (SP), foi a escolhida e teve entre seus principais objetivos organizar a demanda por vagas e expandir o número de matrículas nas creches. Sua atuação foi fundamental para a implementação das ações que mudariam o quadro de demanda por creches na cidade paranaense, como explicado na próxima seção.

Principais ações

Londrina vem encontrando caminhos para superar o contexto desafiador. O número de matrículas foi ampliado, principalmente em 2017, e a fila de espera por vagas diminuiu de forma relevante – de 12 mil crianças, em 2016, para 6 mil, já em 2017. Em junho de 2021, esse número estava em 2,3 mil crianças, sendo que 1.003 já receberam oferta de vagas, mas as famílias recusaram por motivos diversos. Para otimizar a gestão de vagas e ampliar a oferta, a Secretaria Municipal de Educação de Londrina lançou mão de uma série de ações ao longo do tempo, detalhadas a seguir.

1) Criação da Central de Vagas

A primeira ação necessária foi compreender o real tamanho da fila de espera por vaga na Creche. A Secretaria excluiu a fila de espera anterior de todas as unidades e solicitou às famílias que realizassem novamente o cadastro das crianças em apenas uma unidade. Após o processo de recadastramento, foi realizada uma força-tarefa para eliminar eventuais cadastros repetidos, chegando-se a uma fila de espera de cerca de 6 mil crianças, metade da estimativa anterior.

A partir desse processo, a Secretaria começou a organizar a alocação das vagas e a criar critérios de priorização, para garantir que os alunos das famílias mais vulneráveis tivessem prioridade. Nesse contexto, foi criada a Central de Vagas (CV), em 2017, a partir de um requerimento do Ministério Público e da Defensoria Pública solicitado pela Secretaria Municipal de Educação. A implantação da CV foi percebida como uma tentativa importante para resolver o problema e contou com o apoio do Ministério Público e da Defensoria Pública, o que trouxe mais legitimidade para a medida. É importante ressaltar que, em outros contextos, essa política pode sofrer resistência de determinados atores, como alguns diretores das escolas e atores políticos locais, como vereadores, que, muitas vezes, perdem poder na alocação de vagas.

O trabalho da CV está organizado em três grandes elementos: estrutura e pessoas, processos e ferramentas.

  • A. Processos: O funcionamento da CV envolve cinco etapas: agendamento, cadastro, entrevistas com responsáveis, indicação de preferência e encaminhamento para matrícula.
  • B. Estrutura e pessoas: a criação de uma central de vagas é um um processo relativamente simples e que não demanda muitos custos. A CV de Londrina foi estabelecida em um prédio público no centro da cidade, ao lado do Terminal Urbano de Londrina, para facilitar o acesso da população. Trabalham no local 15 pessoas, três com função administrativa e 12 professores que operacionalizam o trabalho, todos servidores da rede que foram remanejados para atuar na Central de Vagas.
  • C. Ferramentas: A Prefeitura de Londrina criou, em parceria com o setor de sistemas, o Sistema de Gestão de Informações (SGI), que centraliza a gestão das vagas – realização do cadastro das crianças, acompanhamento da fila, mapeamento de vagas nas escolas e transferências. Este mecanismo é fundamental para executar a correspondência entre os cadastros e as vagas de forma eficiente e rápida. A alocação é feita automaticamente: assim que uma vaga abre em determinada escola, a primeira criança da fila recebe a oferta de vaga e os pais ou responsáveis são notificados e já podem realizar a matrícula. Para o acompanhamento da demanda e o aumento da transparência, a Secretaria disponibiliza, no site, a fila de crianças por Creche, mas somente com as iniciais dos nomes e o CPF, para garantir o sigilo e a segurança.
IDEIA INSPIRADORA

Benefícios da Central de Vagas

Diretores das Creches

  • A Central de Vagas permitiu que a alocação de vagas fosse de responsabilidade da Secretaria, sendo que coube às escolas apenas efetuar as matrículas das crianças encaminhadas;
  • Esse processo liberou mais tempo dos diretores para olharem para questões pedagógicas e administrativas das unidades.

Secretaria Municipal de Educação

  • A CV permitiu a entrada da Secretaria no processo, assegurando, assim, autonomia para modificar, melhorar e controlar o processo de fornecimento de vagas;
  • A centralização das informações permitiu, também, identificar a real demanda por Creche no Município, o que tornou mais assertivo o planejamento para expansão de novas vagas e em quais regiões da cidade deveriam ser abertas.

Sociedade

  • A CV, além de aumentar o alcance das Creches a mais famílias, e, principalmente, às mais vulneráveis, também trouxe mais confiabilidade e isonomia ao processo: os critérios passaram a ser únicos para toda a rede, com regras claras e sem interferências de agentes externos que possam visar a interesses próprios ou de pequenos grupos;
  • A fila passou a ser divulgada na internet, favorecendo a transparência do processo e diminuindo a demanda de famílias que tinham que se deslocar ou entrar em contato com a CV para se informarem sobre o status em que se encontravam na fila.
SAIBA MAIS

Entenda a estrutura da Central de Vagas da rede municipal de Londrina no PDF completo da iniciativa.

2. Expansão do número de vagas por meio de parcerias

A Central de Vagas cumpre um papel fundamental em organizar a demanda e garantir a priorização das matrículas para os mais vulneráveis. Contudo, para diminuir a fila de espera, foi necessário ampliar o atendimento. Londrina adotou duas estratégias principais:
(1) Ampliação via rede direta, por meio de melhoria na alocação de vagas e uso dos espaços dentro das unidades já existentes; (2) Ampliação via parcerias com Organizações da Sociedade Civil.

Com essa estratégia, houve expansão mais intensa em 2017 – 6,7 mil vagas – e um número constante de matrículas nos anos subsequentes, em torno de 7 mil vagas.

No que diz respeito às creches abertas via parceria, a Secretaria vem investindo na melhoria da qualidade do atendimento e na fiscalização do trabalho dessas unidades. Um exemplo é que a formação continuada dos professores das creches diretas também é disponibilizada para os professores das unidades parceiras. Além disso, o Plano Municipal de Educação de Londrina definiu critérios claros para o atendimento que devem ser seguidos pelos CEIs, como a razão professor/crianças.

SAIBA MAIS

Entenda como são realizadas com as parcerias com as OSCs na rede municipal de Londrina no PDF completo da iniciativa.

3. Padronização do horário de atendimento na Educação Infantil

Antes de 2017, não existia na rede municipal de Londrina uma carga horária padrão para cada etapa de atendimento, existiam creches em tempo integral e outras em tempo parcial. O mesmo acontecia aos CMEIs (Pré-Escola).

O principal problema desse formato era que os responsáveis não queriam matricular as crianças em Creches de tempo parcial, já que, neste modelo, tinham mais dificuldade para cumprir suas atividades de trabalho. Além disso, a Secretaria também tinha o desafio de universalizar o acesso à Pré-Escola a partir de 2016, de modo que o atendimento nessa etapa em tempo integral dificultava esse processo.

Diante desse cenário, a Secretaria optou por organizar o atendimento da seguinte forma: todas as crianças frequentam a Creche em período integral (das 7h30 às 17h30/18h), enquanto os alunos da Pré-Escola têm atendimento em período parcial (dois turnos, sendo um das 7h30 às 12h e outro das 13h às 17h30). Essa decisão foi importante para garantir a ampliação do acesso à Pré-Escola no Município e também para garantir um atendimento mais padronizado e uniforme nas Creches, sejam diretas ou parceiras.

4. Articulação com o Ministério Público e a Defensoria Pública para diminuição da judicialização por vagas

Assim como na rede municipal de São Paulo, a judicialização por matrículas em Creche era um fenômeno muito intenso em Londrina e que acarretava desafios para o atendimento da demanda, na medida em que provocava alterações na ordem cronológica da fila. Em 2016, 600 ações judiciais referentes a vagas em Creches foram expedidas pela Defensoria Pública. Já em 2017, com a criação da Central de Vagas, de forma articulada com a Defensoria e o Ministério Público, esse número diminuiu para apenas 17.

Antes, as famílias mais vulneráveis procuravam a Defensoria, pois não conseguiam vagas. Então, entrava-se com uma ação judicial para garantir a vaga. A partir da CV, as famílias mais pobres passaram a conseguir as vagas por conta do critério de vulnerabilidade e os atendimentos dessa natureza na Defensoria diminuíram de forma expressiva.

A judicialização ainda persiste, mas em menor proporção, principalmente por conta de ações judiciais de famílias de nível de renda mais elevado. Contudo, como existe uma articulação entre esses órgãos e as instituições de Justiça, essas ações não são convertidas em ordens judiciais, que permitiriam a essas crianças “passar na frente da fila”.

Outras análises do estudo

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